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REVIRAVOLTAS

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NASCEU UM ESTUPENDO GRUPO DE DANÇA: NOSSAS DANÇAS

Falo de um grupo formado por antigos bailarinos e bailarinas da Companhia Nacional de Bailado e do Ballet Gulbenkian que formaram um grupo dedicado às danças tradicionais portuguesas, estilizando-as também, e incluindo ainda coreografias de dança moderna e contemporânea, o NOSSAS DANÇAS. Fui vê-lo ao Auditório Olga de Cadaval, em Sintra, onde dois outros bailarinos, Fernando Duarte e Solange Melo, são os curadores de um novo Ciclo, "A Música Também Dança". É objectivo ainda do NOSSAS DANÇAS aliar a música à dança e, neste magnífico espectáculo, contam com bons músicos, na guitarra e viola portuguesas, respectivamente Diogo Lucena e Quadros e Gustavo, também solista de uma bela voz. E ainda, como pano de fundo para as danças mais tradicionais, os exímios acordeões de Ana Paula Tavares e Flávio Bolieiro. Mas este espectáculo, de um tremendo bom gosto e mestria - todos os seus elementos tiveram formação clássica e de dança moderna e contemporânea - tem um ritmo avassalador, começando com as danças minhotas e depois, com intervalos para a dança contemporânea, visitar o Ribatejo e a Nazaré. E do Ribatejo, onde entra um autêntico bailarino do fandango, Marco Marques, há uma interessante "heresia", ou seja, as mulheres também dançam o fandango. Nos intervalos, para mudança de figurinos, todos eles jogando habilmente com as cores - relembro os trajos ocre e castanhos das mantas e capotes alentejanos com que se joga, com belo efeito, numa coreografia impressiva e ainda, mais à frente, se repete nas Sete Saias da Nazaré, terra de pescadores, tendo o mar como fundo melódico omnipresente. Nos intervalos, entre cada coreografia, há uma contínua presença, na direita alta do palco, dos bailarinos/as mudando de figurino numa penumbra de bastidores, belo efeito de cena que adquire um significado especial quando quatro dos solistas vêm depor as suas sapatilhas no proscénio e um deles faz uma bela pirueta, lembrando o seu passado de bailarino clássico. Trata-se de um espectáculo deslumbrante com um desenho de luz formidável de Cláudia Rodrigues e Paulo Graça, definidor de espaços cénicos e construtor de atmosferas várias, com um final feérico de cores e alegria que arrebatou o vasto público ali presente. E não se poderia ter escolhido melhor som para alguns intervalos de dança como os Grupos Danças Ocultas e os TocáRufar que nos fazem lembrar as festas e romarias do Portugal que somos. Um belíssimo espectáculo que merece percorrer, em demorada e justa digressão, este país, levando uma nota de cor, alegria e virtuosismo, mescla ainda feliz entre o tradicional e a dança moderna e contemporânea, e nunca caindo numa estética meramente folclórica e ilustrativa, mas introduzindo-lhe nuances várias, estilizando-as, ousando por vezes inovar. E a alegria de quem tinha fome de palco e da dança nota-se, no palco, na actuação destes brilhantes bailarinos, com uma cumplicidade e um sentido do colectivo enormes, alegria essa que contagia rapidamente o público que participa também, por momentos, nestas REVIRAVOLTAS, nome deste arrebatador espectáculo. Cuja Coordenação Artística é de Cristina Maciel e a sua Concepção e Coreografias são de Francisco Rousseau e Rui Reis Lopes. Com uma nota para os excelentes Cenografia e Figurinos de Paula Rousseau. Definitivamente recomendável e a não perder. Espectáculo brilhante e para o grande público que as Câmaras, por esse país fora, deviam de contratar. Apenas duas notas finais: No tempo da Ditadura do Estado Novo houve um Grupo, o Verde Gaio, dirigido por dois bons bailarinos, Ruth Ashvin e Francis Graça, embora de ambições mais limitadas e de cariz diferente deste Nossas Danças e que terminaria com o PREC, pós-25 de Abril. Outra a de que, numa das Companhias Europeias de Dança mais consideradas, o Nederland Dance Theater de Amsterdão/Holanda, chegou a existir a Companhia 3, formada por bailarinos solistas mais idosos, mas ainda virtuosos, cujas coreografias eram criadas de propósito para as limitações que a idade física naturalmente traz consigo. E era um prazer vê-los. Por um esquecimento, de que aliás peço imensa desculpa, aqui vão os nomes dos estupendos bailarinos/intérpretes: Brent Williamson, Cristina Maciel, João Carlos Petrucci, Kimberley Pearl, Marco Marques, Maria João Salomão, Paula Rousseau, Rui Reis Lopes e Rute Sá Lopes. Os meus parabéns, pois, a toda a Companhia, intervenientes e colaboradores, pelo estupendo espectáculo que me foi dado ver.

 

Professor Tito Lívio

DANÇAR COM ALEGRIA E QUALIDADE: "RODOPIOS" NO OLGA DE CADAVAL.

"Este espectáculo do Grupo Nossas Danças aborda as danças dos Pauliteiros, Açores, Madeira e Algarve de uma forma livre e contemporânea, despindo-se do rigor tradicional."

Do Programa de Sala.

Foi com grande expectativa que fui assistir ao segundo programa do Grupo Nossas Danças, composto por bailarinos séniores provenientes da Companhia Nacional de Dança e do Bailado Gulbenkian, um Companhia de uma enorme qualidade que tenta conjugar as danças tradicionais portuguesas com a Dança Moderna e Contemporânea. E verifiquei que houve uma enorme evolução, a nível de impacto, ligação das várias cenas, da parte plástica, figurinos e cenário, do ritmo e ligação das várias cenas destes "Rodopios", de um desenho de luz que confere uma atmosfera apropriada a cada quadro, uma luz que baila também.

No início o canto dos pássaros anunciando um dia de sol, o despertar numa qualquer aldeia portuguesa - talvez Trás-os-Montes, como o Careto que surge á frente da cortina de boca de cena, nos sugere. Estamos em plena ruralidade. E aquela sobe um pouco para nos dar apenas a visão dos pés de gente, de duro e afadigado trabalho que, numa romaria qualquer, baila as danças tradicionais de um folclore que passou de geração em geração, que passa de pais para filhos. E há ainda a figura do amolador de facas que, na sua bicicleta, percorrendo distâncias, teima em subsistir e também capa os gatos.

A cortina sobe e estamos, com os Pauliteiros de Miranda, figurinos brancos, belíssimos e um bailado que nos enche a alma, uma música que sobe da terra e nos contagia e uma manta de retalhos, como é a deste espectáculo composto por vários quadros, unidos por um ritmo avassalador. E entra a música ao vivo, quatro muito bons instrumentistas e um cantor de voz quente e poderosa, que preenche o espaço e o tempo para a mudança de figurinos dos bailarinos e um novo bailado. E que figurinos! E, de repente estamos na ilha da Madeira, a dançar o tingo lingo na voz inconfundível do grande Max. E toda essa alegria, com que os bailarinos dançam, esses apontamentos de um humor sadio e interessante, se comunicam à plateia que encheu o Centro Cultural Olga de Cadaval, em Sintra.

E daqui passamos ao Algarve e a outra bonita e justa homenagem-agora ao poeta popular António Aleixo e suas bem conhecidas quadras - uma dança que espanta as mágoas e o duro trabalho na terra, exercícios viris de musculação, o repto dos homens ás raparigas, os pares que se formam e rodopiam num bailado incessante onde os casais - na dança e tantas vezes na vida - se formam.

E assim chega o final, a tempestade, a chuva, que acaba por cair, imensa, recebida com alegria pelo careto inicial porque é ela, tantas vezes rara, que vem molhar a terra, torná-la púbere e fértil, que traz o pão para as bocas e o trabalho para quem a cultiva. Imagem muito bela ressaltada por uma luz que recorta esta cena tão impactante. E nos lava a alma também.

E as palmas surgem em catadupa, os assobios de contentamento, de um público maravilhado, contagiado por tanta beleza, pela qualidade e alegria destes bailarinos séniores que adquirem uma nova juventude no palco, oferecendo-nos toda a sua longa e boa experiência que habita ainda a leveza dos seus corpos que nunca esqueceram a Dança porque ainda está impressa neles e nelas.

É, de facto, um espectáculo entusiasmante que deveria rodar por esse Portugal fora e, no estrangeiro, como representante magnífico da nossa cultura e de um folclore tradicional estilizado. E que se não compreende que não tenha qualquer subsídio da Direcção-Geral das Artes e Ministério da Cultura. Aconselho-o vivamente às diversas Câmaras Municipais porque de uma enorme qualidade. E pedagógico também porque, num universo de hoje, em que se endeusam a juventude e beleza como valores supremos, estes séniores/bailarinos nos dão uma lição de experiência, de uma juventude e alegria, de corpos remoçados e que se rejuvenescem na Dança que nunca deixou de habitar os seus corpos.

Desejo aqui lembrar que o Nederland Dance Theater, uma das mais reputadas Companhias de Dança Moderna e Contemporânea, grupo holandês bem prestigiado, manteve, durante muito tempo, um Grupo formado por antigos bailarinos seus, séniores. E com largo prestígio.

A ver urgentemente por esse Portugal fora e a merecer, urgentemente, um subsídio para uma desejada digressão, não só nacional, mas também internacional. Porque são um excelente quadro vivo de uma cultura enraizada na nossa terra e nas nossas gentes.

Professor Tito Lívio

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RODOPIOS

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